Agora, enquanto eu estou sentada na sala da minha casa, um juiz, em uma sala totalmente diferente desta julga se o meu irmão de coração há 7 anos, deve mesmo morar aqui.
Como assim se ele deve mesmo morar aqui? Não é este o seu lar? O seu lugar? Onde mais uma criança há de viver se não ao lado da família que ele escolheu e que lhe escolheu e acolheu?
Agora, enquanto meu coração acelerado dói e minha cabeça não consegue pensar em outra coisa, minha mãe está lá, diante do homem que pode mudar nossas vidas, que pode tirar de nós o nosso maior tesouro, nossa maior alegria, tentando manter-se calma, nos demonstrando fé e confiança em Deus e na justiça, coisas de mãe né? Proteção sempre.
Agora, enquanto eu minha dor transborda incessavelmente pelos meus olhos, meu pai tenta entender o que faz lá, entender qual é o problema de gerar um filho no coração ao invés de num ventre. O amor, a educação, o caráter, são menores por causa desse detalhe? Olha para tudo com atenção, tentando não pensar no que pode acontecer, tentando não pensar no que pode perder.
Agora, enquanto eu tento inutilmente me acalmar e acreditar, minha irmã está ao lado de fora da grande sala importante, tentando não chorar ao ouvir as perguntas inocentes de um menino de 9 anos que só quer voltar para sua casa, para jogar videogame e assistir TV.
Agora, enquanto o meu mundo é um ponto de interrogação gigante, sem saber o dia de amanhã nem as próximas horas, sem saber o que Deus guarda para a minha família e principalmente para esse menino, para esse rei dos nossos corações, que chegou com 3 anos de idade, humildemente, nos entregando a próprio vida.
Agora, meu coração se tranquilizou ao pensar no seu rostinho, na sua fé, na sua certeza de que a noite estará aqui para brindarmos, com o espumante sem álcool que ele colocou para gelar, e comemorarmos a nossa família. Meu coração se tranquilizou ao lembrar de todas as "Hora da Leitura" que tivemos antes de dormir, de todas as refeições que dividimos a mesa, de todas as comemorações por cada fase de videogame vencida, cada lição da escola e da vida aprendida.
Agora, enquanto eu, nesta sala vazia e fria, que testemunhou tantos momentos felizes de uma família de amor, tento preencher o meu tempo e este espaço com luz e orações, sinto a presença da "fé", da "esperança", da "sabedoria divina" e creio, ou tento crer, que vai dar certo. Que o certo é amar, independente do sangue que corre nas veias da pessoa. Que o certo é cuidar, educar, acolher. E isso tudo, sempre, deveria valer mais, sem precisar ser levado a provas, basta ser sentido, nos olhos de qualquer criança.
Seria tão bom que levasse somente em conta os sentimentos do seu irmão...
ResponderExcluirVolte e nos conte o que foi resolvido. Por favor, fiquei de coração partido aqui do outro lado viu?!
Abraços!